Volume 2

Capítulo 0077: A Torre da Justiça

Atualizado em: 01 de abril de 2024 as 04:51

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Siegfried abriu e fechou os dedos da mão direita, sentindo-os formigar enquanto cavalgava a passo lento atrás do barão Kessel.

Aos poucos a floresta densa se tornou esparsa e a copa das árvores rareou, clareando o caminho; até já podiam ver a fumaça das fogueiras e sentir o cheiro de carne assada, quando emergiram de volta ao acampamento do exército.

Os soldados mortos-vivos que faziam a patrulha do perímetro foram os primeiros a notá-los, mas o barão Kessel deu uma ordem e eles se afastaram imediatamente, como se o reconhecessem.

Então seguiram até a tenda do conde.

Não levou mais do que dois minutos até que a chegada deles deixasse todo o acampamento em alvoroço; soldados pararam de afiar suas armas, rameiras saíram de suas tendas do prazer e crianças vieram correndo de todos os lados, com os rostos empolgados e cheios de expectativas… Até que alguém notou a ausência dos seis recrutas:

— E-ei! Não tinha mais gente?

— Merda! Acho que cê tem razão. Cadê o resto?

— Será que eles foram derrotados?

— Quê!? Não brinca! Que incompetentes!

— Shhh! Tá maluco!? Eles vão te ouvir!

— E daí? Eles são mesmo! Saíram daqui cheios de pompa e voltaram com o rabo entre as pernas. Deviam ter feito o trabalho direito!

Siegfried ignorou os comentários e se separou do barão Kessel alguns metros à frente, quando eles tomaram caminhos diferentes; o lorde foi relatar o ocorrido ao conde, enquanto ele voltava para a sua tenda.

Ainda era de manhã, mas queria descansar antes que voltassem a marchar.

Isso não aconteceu.

Assim que entrou, o ar estava impregnado com o fedor de álcool, suor e o inconfundível cheiro de sêmen, enquanto uma garota era espremida entre dois rapazes e gemia feito uma cadela no cio. Quando tentaram se explicar, só pioraram as coisas; aparentemente algumas das prostitutas estavam usando o local para oferecer seus serviços desde que partiu. Então os expulsou e queimou a tenda até às cinzas.

Naquela noite choveu do pôr do sol ao amanhecer, mas Siegfried não se arrependeu da sua decisão nem por um segundo.

Não houveram mais desaparecidos desde então. Na verdade, não houve sequer um assassinato desde que o barão Kessel liderou a sua caçada, mas quando voltaram de mãos vazias, a maioria pensou que as mortes fossem recomeçar. Estavam errados.

Cinco dias depois, chegaram à Torre da Justiça. Sem mais incidentes.

Siegfried vinha na vanguarda da tropa, ao lado do conde Gaelor, o barão Kessel, os porta-estandartes de ambos e mais um punhado de soldados a pé para fazer a sua segurança.

A região era uma longa planície que se estendia até muito além de onde a sua vista alcançava. A torre ainda parecia distante, talvez a duzentos ou trezentos metros, mas já podiam vê-la; e também o cerco que foi montado ao seu redor.

Menos de dez minutos depois, foram abordados por uma patrulha montada que trazia a bandeira de seu lorde: um pato dourado em fundo vermelho.

Estavam em seis. Cinco deles eram homens adultos, bem para lá dos seus vinte e trinta anos, mas quem falou foi o mais novo; um rapaz de dezessete anos, com sorriso fácil, cabelos loiros acastanhados e uma brigantina tão limpa que mais parecia ter sido feita naquela manhã.

— Vossa graça. Adrien Dalton, ao seu dispor. Estávamos à sua espera.

E então os conduziu até o acampamento, onde uma centena de soldados estava de prontidão, reunidos em frente às suas tendas improvisadas. Alguns tinham pedras de amolar em suas mãos; outros, uma garrafa de cerveja. Mas conforme os viam se aproximando, endireitavam a postura e observavam em silêncio, até que não estivessem mais no campo de visão do conde e pudessem voltar aos seus afazeres.

— Vejo que seu pai não perdeu tempo — disse o lorde Gaelor. — Quando chegaram?

— Há quase uma semana, vossa graça. Também já teríamos lhe dado a cabeça de Eradan, se o covarde não tivesse se enfiado naquela torre feito um rato. Até onde sabemos, eles não têm muitos homens. Duas dúzias, no máximo. Poderíamos arrancá-los de lá em uma tarde se quiséssemos, mas o senhor meu pai achou por bem esperar suas ordens, antes de assaltá-la.

— Então seu pai não é um tolo tão grande quanto você! — disse o barão Kessel, sem se incomodar em disfarçar o desprezo em sua voz. — O neto de sua graça está naquela torre. Ou ficou tão cego pela própria glória que se esqueceu disso?

Adrien não voltou a abrir a boca.

Parecia triste, mas Siegfried não dava a mínima para os sentimentos do rapaz. Estava ocupado demais prestando atenção na Torre da Justiça.

Com quatro andares, a estrutura era duas vezes maior que a torre do Forte dos Demônios. Tinha sido construída em calcário branco, mas séculos haviam se passado desde então, agora ela era mais cinza do que branca; talvez não fosse mais tão majestosa do que quando foi concluída, mas continuava imponente com seus vinte metros de altura.

Arqueiros espreitavam das suas janelas estreitas nos dois andares superiores. No topo, as ameias estavam vazias, mas ainda estavam lá; tão altas que ofereciam uma visão privilegiada do terreno, além de fazer da vida dos arqueiros no chão um verdadeiro inferno.

Mesmo com um aríete, perderiam dúzias e mais dúzias de soldados, apenas tentando romper o portão de ferro.

Mas ainda venceriam no final e Eradan parecia saber disso. Os recrutas que faziam o perímetro estavam ao alcance dos arqueiros nas janelas, mas conversavam despreocupadamente.

“Ele não vai começar essa batalha.”

Siegfried deixou escapar um suspiro. Qual era o sentido de se tomar uma torre se você nem pode mantê-la?

A tenda do barão Dalton era tão grande que mais poderia ser classificada como uma pequena casa de um único cômodo; ligeiramente maior do que aquelas onde os plebeus viviam. Seu exterior era forrado com uma lona dourada e vermelha, com dois soldados guardando a entrada.

Lá dentro, encontraram um homem calvo com cerca de cinquenta anos, olhando em um espelho enquanto duas servas o ajudavam a vestir sua túnica de veludo.

Ao contrário do barão Kessel, o lorde Dalton era um homem baixo, com uma barriga de cerveja e braços finos que pareciam nunca ter segurado uma espada na vida. Até cheirava a flores, como se passasse seus dias se banhando em água de rosas e passando óleo no corpo. Era quase uma mulher. Uma mulher barbada e feia, com a cara rosada e as costas doendo de tanto se curvar.

— Pai — chamou Adrien. — Sua graça está aqui.

O velho se virou tão depressa que esbarrou em uma das garotas e quase a derrubou no chão, mas nem lhe deu atenção. Ao invés disso, se aproximou do conde com um largo sorriso no rosto e fez uma meia reverência ao se aproximar:

— Vossa graça. Que visão magnífica. Sua chegada traz luz à escuridão deste campo de batalha. A esperança e a coragem deste seu humilde vassalo ressurgem como uma fênix diante de sua magnificência. Não tenho dúvidas de que meus homens serão capazes de feitos grandiosos agora que têm um homem de tanto valor para liderá-los, milorde.

— É bom ver que a sua língua continua afiada como sempre, Henrik. Mas prefiro ouvir falar de nossos inimigos.

— Ah! Mas é claro. Imediatamente. Por favor, sente-se. Vocês duas, vinho! Agora!

Enquanto as servas corriam para cumprir as suas ordens, os três lordes se sentaram em uma mesa redonda com quatro cadeiras. Siegfried e Adrien não eram importantes o bastante para merecer um lugar à mesa, por isso ficaram ambos de pé e se mantiveram em silêncio.

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