Volume 2

Capítulo 0076: A bruxa da floresta

Atualizado em: 24 de março de 2024 as 20:50

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Siegfried tentou, mas não conseguia se lembrar da garota.

— Quem é você?

Ela enrolou os braços em volta do pescoço de um dos lobos, abraçando o animal como se fosse um bichinho, enquanto esfregava o rosto em seu pelo negro:

— Ele não lembra de mim, fofinho. Eu só penso nele todos os dias, mas ele esqueceu de mim.

De repente os lobos começaram a rosnar, como se o rapaz tivesse acabado de pisar no rabo de um de seus filhotes. Lili soltou o animal e se levantou; seu rosto delicado contorcido de raiva, quando ela cerrou os dentes e suas pupilas brilharam tão intensas quanto duas estrelas vermelhas:

— Você devia se lembrar das pessoas que mata!

— Huh!? Ah! Faz tempo que ninguém tenta se vingar de mim. E quem foi que eu matei?

— Eu, seu idiota!

O rapaz não entendeu e, de alguma forma, isso a deixou ainda mais irritada:

— Como você pode esquecer!? Você me matou! Me partiu ao meio com sua espada…

Seus olhos se encheram de lágrimas e ela abraçou a si mesma; as mãos trêmulas e a respiração pesada, como se lembrasse de algo. Durou apenas um momento e então se entregou à raiva novamente:

— Minha vida significou tão pouco assim pra você!? Minhas amigas… Você também não lembra delas, não é? Matou todas nós e nem se lembra! Tudo por causa daquela sua namorada… Ela devia estar aqui. Não consigo dormir desde que voltei, mas não faz ideia de quantas vezes sonhei em matá-la bem na sua frente. Fazê-lo implorar…

Ela estalou a língua e os dois lobos avançaram calmamente, andando em círculos ao redor de Siegfried, mas sem atacá-lo.

— Não importa. Depois que eu terminar com você, vou trazê-lo de volta e fazer você matá-la com suas próprias mãos!

Ela sorriu e os lobos atacaram.

Um deles estava bem atrás de Siegfried, quando saltou e o rapaz se virou para interceptá-lo, mas foi lento demais; as presas do animal atravessaram sua brigantina como se fosse feita de algodão e se enterraram na sua cintura, o derrubando no chão.

Quando tentou empurrar a cabeça do animal para longe com a mão esquerda, ele fechou ainda mais as mandíbulas. Podia sentir seus dentes o perfurando cada vez mais fundo. Mastigando.

Então puxou a espada; o ângulo estava ruim, por isso teve alguma dificuldade em mover o braço, mas conseguiu enfiar a lâmina em seu abdômen. O lobo deixou escapar um ganido, mas as suas mandíbulas não cederam até que Siegfried girou a espada dentro dele e finalmente o matou.

Mas pouco bem lhe fez.

Ainda estava no chão quando o segundo lobo se aproximou em um vulto negro e abocanhou a sua mão da espada, o arrastando para longe enquanto sacudia a cabeça, como se tentasse arrancá-la… E provavelmente teria conseguido, se ele não tivesse puxado uma faca com a outra e esfaqueado a garganta do animal uma vez. Duas. Três. Até que o lobo desistiu e recuou; o pelo negro empapado de sangue em volta do pescoço.

Siegfried respirou fundo e tateou o chão atrás da espada, mas seus dedos estavam ardendo e, mesmo quando encontrou o cabo, não conseguiu fechar a mão em volta dele.

Então Lili apareceu, chutou a lâmina para longe e sentou em cima dele.

Era leve, mas quando sentiu os quadris dela bem em cima do seu estômago, foi como se um tronco de árvore tivesse caído sobre ele, abrindo ainda mais o ferimento em seu abdômen e fazendo o sangue jorrar.

A dor foi tanta, que sua mente apagou por um instante.

Quando tentou puxar a faca novamente, tinha as mãos tão trêmulas que a garota só precisou de uma mão para dominá-lo. E assim que o tocou, sua pele começou a queimar. Siegfried gritou e ela sorriu de prazer:

— Awn! Isso! Essa expressão. Você não faz ideia de quanto tempo esperei pra vê-lo assim.

Ela acariciou seu rosto e, onde tocou, foi como se uma lâmina de fogo o cortasse. Então cerrou os dentes para não lhe dar a satisfação de ouvi-lo gritar novamente, mas isso só pareceu deixá-la ainda mais animada:

— O que foi? Por que tão tímido? Vamos lá. Pode gritar pra mim. Eu sei que você quer. Ou eu podia te matar. Ia gostar disso? Vamos lá. É só pedir que eu faço. Diga: ‘Lili, por favor me mate’.

— Vai se fuder!

— Foi o que eu pensei.

Ela se inclinou para mais perto e o beijou.

Siegfried sentiu sua boca queimar quando tocou os lábios quentes dela; não muito diferente de beijar as brasas de uma fogueira. Quando abriu a boca para gritar, ela enfiou a língua dentro dele e algo escorreu pela sua garganta. Não podia ver o que era, mas tinha gosto de carvão e a textura densa como piche.

Fosse o que fosse, fez seus pulmões queimarem, sua garganta sangrar e seu corpo arder como se o tivessem amarrado em uma fogueira.

Mas não desmaiou.

Não sabia dizer quando acabou, nem para onde a Lili foi. Passou o resto da noite estirado onde tinha caído. Seu corpo inteiro dormente.

Até que o barão Kessel o encontrou.

Siegfried não lembrava de ter caído no sono, mas deve ter acontecido, já que acordou deitado ao lado de uma fogueira, enquanto o lorde Kessel assava dois corvos no espeto.

— O que aconteceu?

A voz saiu fraca e fez sua garganta arder, mas a floresta estava em silêncio e o barão pôde ouvi-lo muito bem:

— Descanse! Você perdeu muito sangue.

— O acampamento…

— Esquece aquela merda. Estão todos mortos. A gente é tudo o que sobrou.

Só então o rapaz percebeu que eram os únicos ali. Além deles dois, haviam apenas dois cavalos; o andaluz marrom do lorde e uma égua branca, mas nenhum sinal do seu palafrém.

Ainda estava escuro, mas não reconhecia o lugar em que estavam. Então se sentou:

— Quanto tempo eu dormi?

— Um dia. E antes que pergunte, sim, nós estamos deixando a floresta. A missão foi um fracasso…

— Foi a Lili.

— Quem? Ah! A garota. É, eu percebi isso quando ela desapareceu no meio do ataque. Devia ter aberto a garganta dela com uma faca quando tive a chance. Nunca pensei que fosse uma bruxa.

— Não acho que seja.

— Do que está falando?

— Foi ela que me atacou… Acho que era um demônio.

A palavra pairou no ar por um momento e o clima ficou frio. Os anões não tinham demônios, não da mesma forma que em Thedrit; aqui, eles eram um passo além da maldade. Servos de Chiandrarun, sempre tentando destruir o povo escolhido de Elyon. Até falar deles era visto como um pecado, por isso a reação do barão não o surpreendeu:

— Já viu um demônio, garoto?

— Não, senhor.

— Então não diga besteiras! Era uma bruxa! Só isso! Se fosse um demônio, você estaria morto!

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