Volume 1 - 00 - 99

Capítulo 01 - O Pequeno Príncipe do Clã Gu (1)

Atualizado em: 01 de março de 2024 as 02:30

Leia em https://novels-br.com//novels/amigo-de-infancia-da-zenite/volume-1--00--99-capitulo-01--o-pequeno-principe-do-cla-gu-1

O que está acontecendo… O que está havendo…

Por algum motivo, me encontrei no meio de um mercado lotado.

Olhei lentamente para o céu.

Um céu sem nuvens com somente um sol para observar me fez fechar os olhos.

O brilho do sol que não via fazia muito tempo era brilhante demais para meus olhos.

Quando olhei em volta, notei uma multidão indo de barraquinha em barraquinha, bem como os vários vendedores de ruas que tentavam se destacar para os transeuntes.

As barraquinhas estavam com um grande fluxo enquanto preparavam a comida para seus clientes comerem e o ar estava repleto com o cheiro de bolinho no vapor.

Os comerciantes gritavam, tentando aumentar suas vendas e a conversa animada da multidão começou a ficar mais alta enquanto se misturavam.

Lembro de viver numa região com um mercado extremamente similar quando era mais jovem.

Quanto tempo faz desde que vi um mercado animado destes? Deve fazer pelo menos dez anos.

Será que estou sonhando?

Eu deveria ter morrido quando meu coração foi destruído.

Se esse é o caso, então por que isto está acontecendo agora?

Estou tendo uma ilusão curta após morrer? Sinto tanta falta assim do meu passado pacífico?

— Que piada.

Meus olhos arregalaram quando percebi que podia falar. No entanto, isso devia ter sido impossível porque minha garganta sofreu uma ferida severa anos atrás, me transformando num mudo.

Por mais chocante que fosse essa descoberta, havia algo mais que me pegou despreparado.

Quando falei, o que veio foi uma voz desconhecida que era fina e aguda. Era como se minha voz tivesse regredido para quando eu era um garoto… após esta percepção surgir, notei que minhas mãos estavam limpas e livres de quaisquer cicatrizes que lembrava.

Não havia como estas mãozinhas pertencerem ao meu corpo adulto.

Minha perspectiva também era muito menor do que costumava, como se meu corpo tivesse regredido a minha infância.

— Será que esta é uma das minhas velhas memórias?

Se esse era o caso, então quando exatamente esta memória assumiu? Não me lembro de ter andando pelo mercado quando era jovem.

Sabendo disso, comecei a olhar em volta e vi um jovem procurando freneticamente por alguém.

Segundo minhas memórias de infância, esse rapaz provavelmente era minha escolta.

Falando das memórias de infância, acredito que o dia que encontrei esse garoto foi no dia que fui secretamente ao mercado lotado.

Enquanto explorava as diferentes barraquinhas, aconteceu de esbarrar numa garota aleatória.

Esta criança que acabei de conhecer me cumprimentou alegremente, somente pelo fato de aparentarmos ter a mesma idade.

Ela então estendeu uma cesta enorme que estava carregando que parecia ser maior que sua cabeça e me entregou uma batata cozida, embora não tivesse ideia de onde a batata veio.

— Quer uma batata?

Essa situação aconteceu agora há pouco.

— Hã?

Ouvi ela dizer algo enquanto estava perdido em meus pensamentos.

Era uma situação tão chocante que esqueci o que dizer.

O que falei para ela naquela época?

“Como ousa me entregar tal coisa!”

Foi provavelmente algo assim.

Eu também poderia ter respondido com algo pior. Por que respondi com tanta rispidez? Seja por causa de suas roupas sujas, ou das batatas que carregava, não tinha certeza.

Naquela época, eu era apenas um pirralho imaturo e ignorante. Não precisava de outra desculpa.

Se soubesse o que essa criança se tornaria, se soubesse o que aconteceria comigo no futuro, eu teria agido de forma diferente?

Honestamente, não posso dizer com certeza porque eu era um pirralho ignorante e imaturo demais.

— Erm… uh… Você não gosta de batatas?

A garota estava hesitando porque não reagi.

Não sei como ela viveu, mas era possível ver a sujeira cobrindo suas roupas.

Não só isso, seu longo cabelo bagunçado cobria seu rosto.

Se a visse agora, você definitivamente a confundiria com um mendigo. Zombei depois de finalmente perceber minha situação atual.

— Se esta memória é a que está sendo mostrada, então acho que me arrependo muito.

— Eh?

A criança inclinou a cabeça em confusão após ouvir meus murmúrios.

Uma ilusão destas me livraria de meus arrependimentos?

Definitivamente não.

Mesmo que fosse o caso, ainda acabei pegando a batata da cesta dela.

Seus lábios floresceram num sorriso brilhante após me ver pegar a batata.

Ver ela sem um dente me fez me perguntar como ela perdeu.

Enquanto observava seu rosto sorridente, falei.

— Muito obrigado. Comerei feliz isto.

Era uma resposta completamente diferente do que disse antes.

— S-Sim…! Isso é da fazendo do meu a-avô!

Após uma resposta animada, ela pegou uma batata da cesta e deu uma grande mordida.

Imitei e fiz o mesmo.

Entretanto, o problema era que a batata estava muito quente.

Que estranho.

Como é que consigo sentir o calor mesmo sendo só um sonho?

Isto era real? Ou era apenas um sonho realista?

Enquanto isso, não consegui dar outra mordida na batata por causa do calor.

— Ahahaha! Seu rosto está vermelho!

Ela estava rindo da minha luta com a batata.

Mesmo que a batata dela provavelmente estava tão quente quanto, ela conseguiu comer tranquila.

Após continuar a me debater por um tempo, consegui comer a batata enquanto aguentava a dor na minha boca.

— É gostoso, não é?

— Sim… uma delícia.

Não era mentira. A batata estava bem deliciosa.

Me perguntei por que conseguia sentir sabor num sonho, mas surpreendentemente, era bastante gostoso.

Enquanto terminava o resto da batata, o homem que lembrei por ser minha escolta se aproximou.

— Jovem Mestre…?

A escolta franziu a testa quando se aproximou, encarando a criança que estava na minha frente.

Instintivamente, colocou a mão esquerda na espada, pronto para sacar.

— Como ousa colocar as mãos-

— Você tem algum yakgwa?

— Hã?

— Você tem algum yakgwa?

Havia uma expressão intrigada no rosto da escolta quando o interrompi.

Por que uma escolta teria algum yakgwa? Chocantemente, ele tinha.

Ele me entregou o yakgwa com uma expressão confusa.

— Você quer experimentar isto?

Peguei o yakgwa do guarda e ofereci a garota.

Ainda fui incapaz de ver o rosto dela por trás da cortina de cabelo, mas conseguia dizer que ela estava surpresa pelo que estava acontecendo agora.

— S-Sério? Você realmente vai me dar isto!?

— Mesmo que tenha me dado uma batata deliciosa, só posso retribuir com esta pobre oferta.

Esta era a época em que praticamente vivia de doces. Talvez fosse por causa disso, o guarda me dava yakgwa para me acalmar sempre que fazia birra.

Ser forçado a carregar yakgwas apesar de ser um guarda… ele provavelmente não aprendeu artes marciais para fazer este tipo de trabalho.

Me sinto um pouco culpado, agora que pensei nisso.

Alheio aos meus pensamentos internos, a garota saltou de alegria após pegar o yakgwa.

Toda vez que saltava, eu ficava nervoso porque algumas batatas cairiam da cesta.

— Muito obrigada! Esta é a primeira vez que consigo comer algo assim!

— É mesmo? Ei, você tem mais?

— Sinto muito, Jovem Mestre, mas esse era o último…

Fiquei decepcionado pelo fato que não conseguiria dar mais a ela.

Enquanto isso, o guarda continuou me olhando com estranheza porque minhas ações pareciam estranhas.

— Por que continua me encarando assim?

— Ah, não é nada, Jovem Mestre.

A garota deu uma mordida no yakgwa enquanto colocava a cesta de batatas no chão, segurando com cuidado o yakgwa para não derrubar por acidente.

No momento que deu a primeira mordida, seus ombros começaram a se levantar.

— O-O sabor é tão gostoso…

— Sinto muito. Gostaria de dar mais, só que esse era o último.

Ela começou a balançar a cabeça quando ouviu o que disse.

Quando balançou a cabeça, significava que estava bem com isto, ou queria dizer que estava decepcionada?

O yakgwa desapareceu após algumas mordidas, o que fazia sentido considerando que a pessoa comendo era uma criança que podia comer uma batata que era do tamanho do punho de um adulto num piscar de olhos.

Notei algumas lágrimas descerem pelo canto dos olhos dela, quando terminou o yakgwa.

— Esta foi a primeira vez que comi algo tão gostoso assim…

— Que bom que tenha gostado.

Ela agarrou uma batata de repente da cesta e começou a comer, mas não parecia estar tão satisfeita comparada aquando comeu o yakgwa.

A primeira degustação de doces já mudou seu paladar?

A garota hesitou por um momento e perguntou.

— Obrigada, posso saber seu nome?

De repente, ela ficou muito mais tímida comparado aquando me deu aquela batata.

Perguntar um nome era tão constrangedor?

— Gu Yangcheon. Meu nome é Gu Yangcheon.

Falei meu nome num tom nítido.

Fazia um tempo desde que disse meu próprio nome alto.

— Gu Yangcheon…

Após aprender meu nome, a garota permaneceu com a expressão tímida enquanto sorria.

Assim que estava prestes a dizer algo, um idoso veio apressado da multidão e abraçou a garota no peito.

— Ei!

— Oh, Vovô!

— Falei para não vagar sozinha sem seu avô!

Ele deve ter surpreendido ela, contudo, em vez de imediatamente afastá-lo, ela se aninhou nos braços de seu avô, que estava a abraçando.

Então, ela sorriu para seu avô, que estava prestes a gritar com ela.

— Estou bem! As batatas também estão bem!

Ela mostrou com orgulho a cesta que ainda estava cheia de batatas.

Ignorando o fato que as batatas ainda estavam um pouco fumegantes, o idoso abraçando a garota começou a olhar para mim com medo.

Era como se estivesse com medo de como eu reagiria.

Minha roupa fina, que não combinava com as redondezas ou a possibilidade que a garota me ofendeu ter causado sua reação.

O idoso falou com uma voz trêmula.

— Minha garotinha não sabe muito do mundo… Me pergunto se minha garotinha te ofendeu, Jovem Mestre…

Já estava ciente que ele estava fingindo ser um idoso lamentável e pesaroso.

Este homem era um dos Veneráveis que permaneceu acima de incontáveis artistas marciais. Nem mesmo o Líder da Aliança Murim poderia maltratá-lo.

— Oh, não é problema, sênior. Estava com fome quando esta garota me deu generosamente uma de suas deliciosas batatas para comer, que aprecio muito.

O idoso me deu uma encarada meio chocado, provavelmente por causa do meu tom formal, apesar de ser uma criança.

Me pergunto se me passei um pouco, mas desde que era apenas um sonho, não importaria muito de qualquer maneira.

— A única coisa que pude dar em troca foi um pequeno yakgwa… então eu que devia estar me desculpando.

O idoso continuou me encarando em silêncio.

Diferente de antes, ele agora estava me olhando com mais seriedade. Eu falei algo errado?

Uma quietude momentânea entre mim e o idoso ocorreu no meio da multidão barulhenta.

Não muito depois, meu guarda quebrou nosso impasse.

— … Jovem Mestre, acredito que seja hora de voltar.

Curiosamente, embora meu guarda tenha dito num tom calmo, ainda consegui avistar seus olhos tremerem violentamente, como se ainda não entendesse o que estava acontecendo.

Me virei lentamente.

— Já?

— Sim, se atrasarmos mais, acabaremos chegando após o pôr do sol.

— Tudo bem, então devemos retornar.

Quando me virei de volta para o idoso, sua expressão voltou ao seu estado triste usual.

— Sênior, parece que preciso sair.

O idoso estava prestes a responder a minha despedida, mas a garota respondeu primeiro.

— Você já está indo…?

A garota nos braços do idoso olhou para mim com uma expressão extremamente desapontada, mas isso era o bastante.

As memórias que tentei mudar, bem como minha vida patética finalmente chegaram ao fim.

Está na hora de acordar.

Fiz o bastante.

Se você me perguntasse o que mudou, minha resposta seria “nada”.

Se me perguntasse se me sinto aliviado, minha resposta seria “nenhum pouco”.

Contudo, até esses pensamentos logo chegariam ao fim.

Enquanto escondia meus pensamentos internos, falei para a garota com um sorriso.

— Se tivermos a chance, vamos nos encontrar de novo. A batata estava gostosa de verdade.

Acenei levemente enquanto a garota respondia com um largo sorriso enquanto acenava com as duas mãos.

O idoso se desculpou repetidamente pelo que aconteceu, só que isso apenas me assustou porque já sabia sua identidade verdadeira.

O idoso lamentável então abraçou a garotinha e desapareceu na multidão.

— … Que susto, quase morri de medo.

O nome do idoso é Wi Hyogun.

Ele foi o primeiro homem a unir este mundo destruído. O homem que salvou o mundo de ser devorado pelo “Dragão Negro”, pois apunhalou sua espada no coração e gravou o símbolo da justiça.

Ele era um homem que uma vez se sentou como Líder da Aliança Murim nas últimas décadas que causava medo nos corações daqueles que ousavam desafiá-lo.

Finalmente, o outro título que costumava usar era “Venerável da Espada”.

Ele desapareceu assim que passou a liderança ao sucessor.

Foi por isso que não consegui entender os motivos dele estar criando uma criança enquanto agia de maneira lamentável.

Em primeiro lugar, ninguém teria suspeitado que este idoso lamentável fosse um dos três homens mais reverenciados no mundo.

Após continuar encarando o lugar onde o idoso desapareceu por um tempo, também me virei, junto do meu guarda.

O problema dele ser o Venerável da Espada ou não, não importava.

Tudo que podia pensar era na garotinha acenando para mim enquanto estava nos braços do idoso.

A garota que me entregou uma batata com um grande sorriso, a garota estava muito feliz, como se fosse a dona do mundo após ganhar um mero yakgwa.

Tudo isso parecia ser o oposto da mulher que feriu o pescoço do Demônio Celestial com um olhar gélido.

Espada Celestial Wi Seol-Ah.

Aquela garotinha era ninguém menos que a própria Espada Celestial.

E aqui foi quando a conheci pela primeira vez.

Bem, é claro, na minha memória original, nunca compartilhei uma despedida legal.

Originalmente, joguei de forma abusiva a cesta de batatas que ela me ofereceu.

A jovem Wi Seol-Ah então começou a chorar após se machucar. Eu ri para ela antes de eventualmente ir embora.

Mesmo que fosse um pirralho imaturo, meu comportamento daquele dia ultrapassou o limite e foi injustificável.

— … Também irei embora.

Não sei por que ou como consegui ver isto, mesmo estando à beira da morte.

De qualquer forma, não vou mais ter arrependimentos após recriar a memória de uma maneira que me satisfez.

Não sei com certeza, mas esperava que fosse assim.

— Sim, vamos retornar.

Sorri amargamente após ouvir a resposta do guarda. Ele provavelmente pensou que eu ia voltar para casa.

Ao invés disso, nem conseguia lembrar as direções para chegar em casa.

Deixando isso de lado, por que ainda não estou acordando?

Já terminei meu trabalho, então não devia acordar deste sonho? Nunca tive um sonho tão longo antes.

— Jovem Mestre? Você está indo no caminho errado.

Continuei indo na direção errada enquanto tentava lembrar minhas memórias vagas.

Toda vez que pegava a rota errada, meu guarda me dizia o caminho correto, que segui para encontrar o caminho de casa.

Tanto faz, isto vai acabar logo mesmo.

Comecei a me ressentir deste sonho que me forçou a continuar vivenciando esta ilusão apesar de já estar preparado para a morte, mas não havia nada que pudesse fazer sobre isto.

Acabei só seguindo o fluxo porque pensei que este sonho não duraria muito.

No entanto, alguns dias depois, eu percebi…

— … por que este sonho de merda não acaba?

Era porque não era um sonho.

Leia em https://novels-br.com//novels/amigo-de-infancia-da-zenite/volume-1--00--99-capitulo-01--o-pequeno-principe-do-cla-gu-1