Volume 2

Capítulo 0085: O barão Whitefield

Atualizado em: 26 de maio de 2024 as 16:37

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A tenda do conde estava lotada.

Apesar de ser o lorde de maior posição ali, Alwyn Gaelor era mais um soldado do que um fidalgo; e os soldados não tinham espaço para luxo desnecessário.

Ao contrário do barão Dalton com a sua tenda cheia de baús, barris de vinho, espelhos e mais ostentação do que seria saudável para qualquer homem em um campo de batalha, a do conde era pequena e simples. Uma cama, um baú, uma arca para a sua armadura e uma mesa. Era tudo o que tinha e tudo o que precisava.

Cinco pessoas eram mais que o bastante para deixá-la ‘lotada’.

— Só pode ser uma armadilha — disse o barão Dalton.

— Se ele quisesse nos matar — disse o barão Kessel —, teria feito isso ontem a noite, quando já estávamos aos frangalhos.

— Talvez seja um covarde. Um de nós vai até lá e então ele tem um refém.

Siegfried tinha sido o primeiro a ver as bandeiras; uma tropa vinda do norte havia chegado naquela manhã, enquanto se preparava para recolher os corpos da batalha da noite anterior.

Por quase uma hora, esse exército misterioso nada fez além de observar, mas isso foi mais que o bastante para deixar o acampamento todo em um alvoroço que só terminou quando um cavaleiro chegou trazendo a bandeira de paz e uma mensagem para o conde.

Um convite para conversar com o barão Whitefield do condado de Essel.

Um convite para conversar com um inimigo.

O conde Essel em questão era tio de Dara, irmão mais velho de seu falecido pai; disso sabia. Mas era também um dos aliados mais fervorosos do rei Helmut e avô materno da duquesa Greenguard.

O barão Whitefield era um de seus vassalos e, portanto, um vassalo do rei Helmut e um inimigo do Rei Negro. Mas então, quais eram suas intenções? A Torre da Justiça marcava a divisa entre o condado de Gaelor e o condado de Essel. Uma invasão não seria impossível, mas por que chamá-los para uma conversa?

Mesmo o barão Kessel parecia incomodado:

— Por enquanto, temos de ver o que ele quer e mandá-lo embora o mais rápido possível.

— Você tá me ouvindo!? — perguntou o barão Dalton, elevando a voz e perdendo a calma. — Já disse, se for uma armadilha–

— Armadilha ou não, temos que nos livrar deles! Já temos Eradan, assim que o convencermos a fazer seus homens se renderem, teremos a nora e o neto de sua graça de volta! Não podemos perder tempo com eles. Não agora.

— E-então o que sugere? Se pensa que eu vou–

— Você não irá a lugar algum! Não somos cães para ir correndo com o rabo abanando só porque um lorde qualquer mandou. Ele nos enviou um mensageiro e nós faremos o mesmo.

— I-isso! Tem razão! Tem toda razão! Era exatamente o que eu estava pensando.

— Eu vou! — disse Adrien, tomando a dianteira.

Tal como Siegfried, ele tinha a posição elevada o bastante para participar da reunião, mas nenhum dos dois tinha a permissão de falar fora de hora e isso enfureceu o barão Kessel:

— Você vai ficar quieto, isso sim! Não me lembro de ter lhe dado licença para falar.

— Lorde Kessel — disse o barão Dalton —, meu filho pode ser um pouco impulsivo às vezes, mas tem razão. O segundo filho de um barão seria um refém fraco e um mensageiro adequado. O barão Whitefield enviou um de seus próprios cavaleiros para falar conosco, corremos o risco de insultá-lo se fizermos menos do que isso.

— Um risco que estou disposto a correr!

— …

— Seu filho não tem educação ou autocontrole. O mais provável é que volte com uma cabeça a menos se o enviarmos. Não. Tenho alguém melhor em mente.

O lorde Kessel virou o rosto para Siegfried, com Adrien e o barão Dalton seguindo o seu exemplo, até que todos estivessem olhando para o rapaz. Nada mais precisou ser dito.

Siegfried partiu faltando duas ou três horas para o meio-dia. Era difícil dizer com o céu nublado e pequenas pancadas de chuva que iam e vinham. Naquele momento, tinham ido.

Não era próprio que um mensageiro aparecesse maltrapilho, portanto foi obrigado a se lavar com um pano úmido para tirar a sujeira e trocar suas roupas enlameadas por novas. Recebeu também uma bandeira de paz e a sua égua branca.

Já estava na metade do caminho, cavalgando por vegetação rasteira e sentindo o cheiro de grama molhada encher seu nariz, quando dois soldados montados se aproximaram com a bandeira do barão Whitefield: uma adaga negra em fundo branco.

Eles o escoltaram pelo resto do caminho. Um à sua frente e o outro na retaguarda.

O acampamento do barão Whitefield era pequeno em comparação com o deles; mal chegavam a oitenta soldados e, mesmo com os seguidores de acampamento, não deviam ser muito mais do que uma centena. Uma centena e meia, talvez; sendo bastante generoso com os números.

“Se vieram nos atacar, começaram mal.”

A tenda do lorde Whitefield ficava onde a tenda do comandante sempre fica: no centro do acampamento, rodeada por soldados de todos os lados. Era um pavilhão simples; branco com listras negras e dois lanceiros guardando a entrada. Nada espalhafatoso.

Siegfried desmontou, entregando as rédeas da sua égua e a bandeira de paz para um escudeiro de dez anos que o esperava fora da tenda, e entrou sozinho. Os guardas olharam carrancudos para a espada que ele trazia no cinto, mas não mandaram que a entregasse. Isso devia ser um bom sinal.

Lá dentro, encontrou o barão Whitefield sentado atrás de uma mesa redonda, com um cavaleiro à sua direita e outro à esquerda.

Era um homem no final dos seus trinta anos e início dos quarenta, com longos cabelos negros que chegavam aos ombros, queixo quadrado sem barba e olhos inexpressivos. Enquanto seus cavaleiros usavam armaduras completas, o barão Whitefield vestia apenas um gibão de lã negra.

Parecia o tipo de homem que liderava os seus soldados da retaguarda, com uma cadeira acolchoada debaixo da bunda e uma taça de vinho na mão.

— Vi a batalha de ontem a noite — disse o lorde. — Meus homens falam de montes de cadáveres por enterrar e mais feridos do que se pode contar. Um belo massacre, se me permite dizer. Espero que as perdas tenham valido a pena.

— Os cadáveres que viu foram dos rebeldes — disse Siegfried. — E os feridos também. Nossas tropas continuam em perfeito estado, não tem com o que se preocupar… Vossa graça.

— Não. Vejo que não. Um verdadeiro alívio, de verdade. Me diga, já tomaram a torre?

— Com todo o respeito, milorde, mas não fui enviado para revelar nossas táticas e planos militares. Sua mensagem deu a entender que tinha algo importante a dizer.

— Tem razão, vamos direto ao assunto. Sei que capturaram Eradan. Um feito inútil, como logo vão descobrir.

— O que quer dizer?

— O neto de seu lorde, o conde Gaelor. Ele não está na torre. Nem a sua mãe. Ambos estão sob meu poder. E, antes que você pergunte, sim, eles também estão seguros. Não tenho nada contra o seu lorde e nem tenho a intenção de feri-los, mas ele tem algo que eu desejo. Diga-lhe isso. Ele saberá o que quero dizer.

Mas Siegfried também sabia.

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