Volume 2

Capítulo 0082: Emboscada

Atualizado em: 05 de maio de 2024 as 16:36

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Siegfried deixou a tenda do conde assim que notou os gritos.

Lá fora, a leve garoa tinha se tornado uma tempestade de primavera e o vento gelado soprava violentamente, encharcando seu cabelo, escorrendo pelo rosto e deixando suas roupas ensopadas, mas isso não impediu o acampamento de arder.

Viu um vagão de especiarias ser completamente consumido pelas chamas. A madeira crepitando ruidosamente, conforme a estrutura cedia sobre si mesma; as rodas se partiram diante do próprio peso, enquanto o teto despencava para dentro e as chamas cresciam até os três metros de altura.

Mas não era a única. Haviam outras. Mais distantes. Três. Quatro. Cinco enormes fogueiras que resistiam à chuva e ao vento. Cada uma tão grande quanto a anterior e a maior de todas com quase cinco metros.

Alguns dos seguidores de acampamento corriam até o lago com baldes nas mãos para tentar apagar o fogo, mas seus olhos foram para a torre.

“Não tem ninguém”, notou.

O barão Kessel havia escalado dezoito soldados para fazer o perímetro em três turnos, de forma a terem sempre seis deles vigiando Eradan e seus homens, mas agora não havia ninguém. A torre encontrava-se desprotegida e em silêncio.

Siegfried sentiu seu sangue ferver e apertou o punho da espada.

“Uma armadilha. E a gente caiu direitinho.”

Mas qual era o plano? Lutar ou fugir? Se fosse o segundo, Eradan podia já estar a quilômetros de distância, cavalgando até um novo esconderijo.

E com ele estariam o neto e a nora do conde…

Então montou o cavalo do lorde e levou o animal até o maior grupo de soldados que pôde encontrar; um pequeno esquadrão de trinta. Todos eles gritando uns aos outros, tentando decidir se iriam para a Vila do Lago lutar ou ficavam para proteger o acampamento.

— Que merda cês tão fazendo!?— gritou Siegfried.

— Senhor — disse um deles —, temos que apagar o fogo.

— Que se dane o fogo! Acha que ele vai conseguir se espalhar nessa chuva? É só uma distração! Vocês cinco, comigo. O resto, avise os outros pra recuarem o acampamento mais pro sul e prenderem qualquer um que pareça suspeito.

— M-mas…

— É uma ordem!

E, simples assim, eles obedeceram.

Mas Siegfried se deixou ficar para trás por um breve momento. Os seguidores de acampamento estavam em pânico; alguns procuravam por seus familiares na confusão, outros saqueavam o que podiam e então fugiam. Assim como havia dito, as chamas não se espalharam. As fogueiras eram grandes, mas estavam longe de representar uma ameaça real. Não que eles parecessem se importar; eram covardes.

E lhe faltavam homens para controlá-los.

A maioria dos soldados estava lutando na Vila do Lago, por isso tinha poucos à sua disposição; os mais verdes. Garotos assustados e sem ter ideia do que fazer. Alguns estavam tão perdidos que até pareciam gratos ao vê-lo se aproximar e lhes dar uma ordem.

— Esqueçam o fogo! — dizia Siegfried. — Levem as pessoas mais pro sul!

Não demorou muito até que os primeiros soldados repassassem suas ordens. Logo, suas palavras já tinham percorrido o acampamento inteiro e, com elas, veio também a calmaria. Pouco a pouco as pessoas perceberam que o fogo estava sob controle e se tranquilizaram; agora carregavam suas coisas mais para o sul, longe das fogueiras.

Mas o destino de Siegfried era outro.

Deu uma boa olhada nos soldados que o acompanhavam.

Queria mais homens. Mais soldados. Seria difícil invadir a Torre da Justiça com apenas cinco recrutas verdes, mas com vinte podia ser ainda pior. Não queria acabar preso nas escadas com inimigos à sua frente e covardes às suas costas.

“Se forem só cinco, talvez sirvam como escudo de carne por tempo o suficiente. Se não… Bem, pelo menos não ficam no meu caminho.”

Sem perceber, tinha feito a volta no acampamento e estava passando em frente a tenda do conde novamente, quando o viu…

Meio escondido entre as sombras, ajoelhado ao lado de um velho carro de bois com a roda quebrada.

Seus homens passaram correndo por ele sem notar, mas Siegfried puxou as rédeas do cavalo e parou tão abruptamente que o animal escorregou na lama e quase caiu, mas de algum modo ainda foi capaz de recuperar o equilíbrio e se manteve de pé.

Quando notaram o cavalo relinchar e fungar meio irritado com o movimento, os soldados pararam de correr e voltaram até onde o rapaz estava:

— Senhor, algum problema?

Ele não lhes deu atenção, tinha os olhos postos em outro lugar. Podia sentir seu coração disparar e o sangue ferver, quando disse:

— Vai ficar escondido aí pra sempre!?

Eradan não hesitou nem por um momento. Assim que o chamou, ele se levantou lentamente, como um velho, e saiu das sombras; as dobradiças da sua armadura rangendo a cada passo. Quando finalmente o viram, os recrutas recuaram e ergueram suas lanças.

A armadura do lorde rebelde não tinha brilho. Seu tom opaco e as riscas no metal sugeriam anos de uso, embora fosse a primeira vez que Siegfried o visse nela. Também não tinha ornamentos. A única coisa que ela ostentava eram manchas de sujeira, embora não houvesse sinal de ferrugem em parte alguma. E parecia grossa. Muito grossa. Feita de bom aço. Feita para a guerra.

— Eradan é jovem, mas ainda assim um cavaleiro — tinha dito o conde antes de partirem. — Se terei de matá-lo pessoalmente ou posso confiar em você para a tarefa, descobrirei nessa luta.

Mas perdeu.

Não era forte o bastante e nem bom o bastante para enfrentar o conde. Naquele dia, tinha apanhado tanto que, quando acabou, nem conseguia se mexer e precisou da ajuda de Dara até para comer.

“Mas agora o conde tá morto e eu sou o único aqui.”

Então saltou da sela e puxou sua espada. Podia sentir a chuva fria na pele, mas seu sangue fervia e seu coração o bombeava com fúria. Era o que estava esperando. Pegou o escudo de madeira que o conde tinha amarrado em sua sela e parou a três metros do inimigo.

A essa altura, o acampamento estava vazio, sem mais gritos ou pessoas correndo de um lado para o outro. Nenhum som além da chuva e o crepitar das chamas, enquanto seus homens formavam um círculo ao redor de Eradan, não que ele parecesse se importar.

O lorde rebelde deu não mais que uma breve olhada aos soldados; seu elmo tinha apenas uma fenda para os olhos e eles haviam desaparecido do seu campo de visão, mas assim que se certificou de que não tinham fugido, perdeu o interesse neles e voltou a olhar para Siegfried:

— Devia ter trazido mais.

Mas não esperou por uma resposta.

Puxou sua espada e a lâmina cintilou com um brilho branco, envolta por uma tênue nuvem de vapor da chuva que derretia em contato com ela, como se estivesse em brasas. Havia calor na prata nobre.

Siegfried deslizou os pés na lama escorregadia, até encontrar apoio na terra mais seca por baixo dela. Então ergueu o escudo no braço esquerdo, sorriu e avançou de frente.

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