Volume 1

Capítulo 0012: Mate as antigas alianças

Atualizado em: 12 de fevereiro de 2023 as 16:19

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Siegfried caminhou por entre os mortos-vivos, deixando para trás os mercenários encurralados; nem quando virou as costas, tiveram a coragem de atacá-lo. Pareciam gratos por ele abandonar a batalha.

"Covardes até o fim."

Parou ao pé da escada e olhou para Kris, um homem grande e musculoso, com quase dois metros de altura, que não usava armadura além das calças de couro curtido. Seu corpo era coberto de runas místicas das mãos à cabeça, e jurava serem capazes de protegê-lo contra magia negra; não que já tivesse enfrentado um mago para testar essa teoria.

Os dois trocaram olhares e o escudeiro pôde ver o nojo nos olhos do seu antigo vice-comandante.

Era o homem mais leal à Eradan, tinha servido seu pai como mestre de armas e o ajudou a fugir quando o conde Gaelor tomou a Torre da Justiça. A sua reação não foi uma surpresa.

— Sempre soube que você não valia um cobre furado. Mercenários são sujos por natureza, mas você? Um maldito pirata e saqueador. O que mais se podia esperar de alguém assim? Qual foi o seu preço, vira-casaca?

— Eu não traí vocês. Fiz o que me mandaram fazer. Lutei até o fim.

— Claramente não.

— Fui capturado. O que esperava que fizesse?

— Que morresse cumprindo seu dever!

— Ah, cheguei bem perto, isso eu te garanto.

— Você quebrou seu voto!

— …

— Mandamos você para preparar nossa investida e você os trouxe direto para nós!

— O quê?

— Onde está a 'honra dos guerreiros de Qaredia' de que tanto ouvi falar? Traiu seus companheiros na primeira oportunidade que teve. Não passa de um covarde!

— Chega!

— O quê? Não gosta de--

— Eu lutei por vocês!

— …

— Quer vir me falar de dever?! Eu não lhes devo nada! Você gosta de ficar aí, posando como um cavaleiro. Fingindo que serve a algum grande líder destemido em uma cruzada, mas a verdade é que não passa de um velho. Servindo a um rapaz mimado com um exército de bêbados que manejam a espada como se fosse uma enxada. Eu sou muito mais do que qualquer homem que vocês tenham encontrado! Fui leal, nunca desafiei sua autoridade, nem questionei minhas ordens ou desertei das minhas missões. Ou será que já se esqueceu quem era o seu melhor soldado? Quem você mandava quando alguma coisa precisava ser feita?

— …

— Eu fui além do que qualquer um deles teria ido. E quando fui capturado…

— Você foi pago.

— Pago? — Siegfried deixou um sorriso escapar. — Deuses, o conde tinha razão. Acha que suas moedas podem comprar lealdade? Eu os segui porque dei minha palavra. Mas tá na cara que foi um erro. Você não dá a mínima pros seus homens, não é? Somos apenas sacos de carne enviados para morrer pela sua causa. E por quê? Para que o seu mestre possa recuperar uma torre vazia?

— É isso que significa ser leal, seu rato traidor! Dar sua vida por um bem maior. Não em troca de ganhos pessoais, mas por algo que vai além de você.

— Não por alguém que não merece.

Não havia nada mais a dizer. E nada mais foi dito.

Siegfried ergueu o escudo à sua frente e descansou a lâmina sobre ele, apontada para o seu inimigo. Então subiu o primeiro degrau, com a guarda alta e sem pressa.

O vice-comandante sacou o seu chicote de armas e desceu até ele com o peito exposto em um claro desafio. Sua arma tinha um alcance maior e estava em terreno elevado, por isso foi dele o primeiro movimento.

O escudeiro viu as esferas de ferro voando em sua direção e ergueu o escudo bem acima da cabeça. Os pregos afundaram na madeira e alguns cortaram seu braço, que tremeu com o impacto. Seus pés deslizaram um pouco para trás e quase caiu, enquanto seu inimigo sorria.

O idiota nem percebeu.

Estava bem para lá dos seus quarenta anos, não muito diferente do conde, mas não era cavaleiro nenhum. Um simples homem-de-armas que ficou desleixado após entrar ao serviço de uma família nobre; entre treinar crianças mimadas e matar camponeses armados com enxadas, ele se tornou orgulhoso… E burro.

Não precisou de mais do que uma estocada.

Seu oponente não usava armadura ou proteção, então bastou levantar um pouco o escudo para tirá-lo do caminho e espetar a sua lâmina direto no peito dele, um pouco abaixo do coração.

O sangue escorreu pelo aço anão e o homem congelou por um momento.

Então Siegfried viu alguma coisa mudar em seus olhos e foi como se uma chama se acendesse. Puxou a espada de volta e foi quando ele acertou um chute direto em seu peito, o fazendo cair escada abaixo, rolando pelos degraus e batendo a cabeça no chão quando chegou ao final.

O sangue escorreu pela sua testa e a sua visão ficou embaçada. Naquela escuridão, foi como se estivesse cego.

Ouviu o ranger da madeira quando seu inimigo se apressou em descer até ele e conseguiu sair do caminho bem a tempo. Houve um estrondo e lascas de madeira atingiram a sua nuca quando o vice-comandante saltou e esmagou o assoalho com seu peso ao aterrissar.

Se levantou de um salto, já com o escudo erguido e não levou nem um instante para que voltasse a ser atingido.

As esferas de ferro na ponta do chicote eram do tamanho das cabeças de recém-nascidos e não era pouco o estrago que faziam. Ficavam presas ao escudo, arrancando pedaços de madeira do tamanho de seus dedos quando o oponente as puxava de volta, comprometendo sua defesa.

Não demoraria muito antes que se tornasse inútil. E então estaria com problemas.

Sua visão clareou um pouco e viu Kris mexer a boca, tentando dizer alguma coisa, mas assim que o fazia, era tomado por uma súbita falta de ar e respirava fundo.

Sua testa estava empapada de suor e o seu rosto pálido como um fantasma. O ferimento em seu peito o deixou lento e nem sequer conseguia manter a postura, andando com os ombros curvados para frente e arrastando o chicote no chão.

Dificilmente uma visão ameaçadora.

Ainda assim, o que viu em seus olhos ainda estava lá. Aquela vontade de sobreviver não tinha morrido ainda.

Os dois trocaram olhares por um momento, então Siegfried tomou a dianteira e jogou o seu escudo no rosto dele. Não esperava que o acertasse, e não acertou. O objeto voou de forma desajeitada e foi estraçalhado em pequenos pedaços com um simples movimento do chicote, que o acertou em cheio.

Então o vice-comandante ficou perdido, pois o escudeiro havia desaparecido.

Se aproveitando da distração, o rapaz deslizou pelas sombras até à esquerda do adversário e pulou em cima de uma mesa. Empunhou a sua espada com as duas mãos e então saltou.

Antes que Kris tivesse tempo de entender o que havia acontecido, a lâmina afundou em sua nuca e ele caiu de joelhos no chão. Sua mão tocou o assoalho em busca de apoio e começou a tremer descontroladamente, perdendo a força.

A última coisa que viu, foi o rosto de Siegfried, enquanto descia a espada contra o seu pescoço e o decapitava com um único golpe.

A cabeça rolou para debaixo de uma mesa e o rapaz olhou ao seu redor.

O último dos mercenários encurralados estava sendo morto; ele acertou a espada no ombro de um esqueleto, mas ela ficou presa e, enquanto tentava puxá-la de volta, outros três mortos-vivos o esfaquearam pelas costas ao mesmo tempo.

Então Siegfried era a única pessoa viva naquele salão.

Trocou a espada de mãos por um momento e viu a direita vermelha, começando a sangrar devido ao esforço. Abriu os dedos com dificuldade e voltou a fechá-los, uma vez e mais outra. A sua cabeça ainda zumbia e seu braço esquerdo tremia.

"Graças aos deuses que ele não gostava de usar armadura."

Suas tatuagens até poderiam protegê-lo contra magia negra, mas uma placa de aço lhe teria sido mais útil contra a espada do rapaz.

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