Volume 3

Capítulo 128: Laços familiares

Atualizado em: 28 de junho de 2024 as 12:19

Leia em https://novels-br.com//novels/a-ascensao-do-dragao-prateado/volume-3-capitulo-128--lacos-familiares

O ar assoviou pelas orelhas de Moon, a fazendo aumentar seu aperto na cintura de Silver.

‘Não colocar um capacete foi uma ideia idiota’

Um borrão tomou conta de todos os arredores, enquanto eles se moviam em alta velocidade. Sinceramente, mesmo se a jovem caísse da moto ela não iria se ferir tanto mas, mesmo sabendo disso, ela não desejava que isso acontecesse.

‘Embora eu não tenha muito do que reclamar’

Não tão disfarçadamente, os dedos da garota traçaram os músculos do estômago de Silver, sentindo cada linha presente lá. Sua bochecha descansou na base do pescoço do jovem, fazendo com que ela sentisse cada leve movimento dele enquanto pilotava.

Seu coração martelou seu peito com a proximidade mas, embora feliz, a jovem se sentiu culpada.

‘Eu sou uma pessoa ruim por estar me aproveitando dessa situação? Provavelmente…’

Silver deveria estar incrivelmente preocupado por descobrir que sua mãe estava no hospital, e aqui estava ela, aproveitando-se disso para ficar o mais próxima possível dele.

‘Vamos focar na coisa certa Moon, você está aqui para apoiá-lo’

O vento que resistiu à investida da dupla engoliu os pensamentos da garota, tão ferozes quanto o batimento de seu coração e de Silver, cuja sensação se misturou graças à proximidade de seus corpos.

❂❂❂

— O dia tá bem tranquilo… — Uma mulher de cabelos castanhos comentou, sentada calmamente na recepção. Olhando para o lado, ela encontrou sua colega a olhando estranhamente.

— Você sabe que acabou de implorar para alguma coisa dar errado, certo? — A recepcionista de cabelos pretos suspirou ao ver o olhar confuso da colega. — Tanto faz. Eu vou buscar um café, quer algo, Eve?

— É proibido comer na recepção. — disse Eve, chacoalhando a cabeça em negação.

— Comer, não beber. — retrucou a mulher, dando de ombros e saindo da área.

Ficando sozinha no guichê, Eve olhou ao redor, observando despretensiosamente os arredores do lugar. As paredes eram brancas, atravessadas por finas linhas azuis que mal poderiam ser vistas de longe.

Nos assentos acolchoados haviam algumas pessoas sentadas, aguardando notícias de seus familiares ou apenas aproveitando o tempo longe do ambiente hospitalar.

Do local onde a mulher estava, era possível ver apenas a parte traseira da televisão que visava os visitantes, mas o som de uma música calma alcançou suas orelhas sem muito problema.

De repente, um barulho alto soou do lado de fora.

‘Uma moto?’

Ela não era uma expert mas, a quantidade de vezes que ouviu esse som dizia não serem boas notícias.

A porta principal então se abriu, fazendo a mulher inconscientemente ajustar a postura, abrindo um sorriso profissional.

O que agraciou seus olhos foi a visão de um jovem, com cabelos prateados penteados ligeiramente para trás, deixando seus fios arrepiados e criando uma sensação selvagem. O contraste entre a luz natural do sol e aquela da recepção obscureceu parte da vestimenta dele, no entanto, a jaqueta que ele vestia ainda era visível.

‘Ele até que é bonito…’

— Boa tarde… — Após cumprimentá-lo, os olhos dela se encontraram com os dele, fazendo seu corpo congelar.

Eles eram dourados como o sol, mas uma fenda atravessou toda beleza possuída por tal imagem, criando um abismo que com certeza a engoliria se fosse observado por muito tempo.

Como tal, ela desviou o olhar, descobrindo que havia outra pessoa atrás dele.

Esta tinha cabelos longos roxos levemente bagunçados, embora ainda estivessem bem delineados. Contrário ao jovem anterior, a garota tinha olhos roxos exuberantes, que continham nada mais que calor e gentileza.

Antes dela poder analisar mais a dupla, eles alcançaram a recepção rapidamente.

— Estou procurando por uma mulher de cabelos pretos e olhos azuis. — Silver declarou, pausando brevemente antes de finalizar. — Ela deve estar acompanhada por um homem de meia idade com corte militar.

— E-eu não posso passar informações dos pacientes sem autorização. — Mesmo com o suor frio deslizando por sua testa, Eve não entregou o que ele queria.

— Olha, sei que é o seu trabalho e tudo mas… — Apoiando uma mão no balcão, o jovem inclinou o corpo, olhando diretamente nos olhos da mulher. — A única coisa que está te mantendo inteira neste momento, é o fato de poder me dar a informação que eu quero.

O coração de Eve bateu com força, mas não por um bom motivo. Sendo contemplada novamente por aquelas pupilas abissais, a mulher hesitou, mas acabou entregando o que ele pediu.

Assistindo a dupla desaparecer pelos corredores do hospital, o corpo da recepcionista finalmente relaxou, e a mulher sentiu que tinha corrido uma maratona completa em poucos segundos.

— Voltei! Você deveria realmente pegar alguma coisa para beber Eve, o dia lá fora tá tão bonito! — A recepcionista de cabelos pretos finalmente retornou, esboçando um sorriso enorme no rosto.

Isso foi até ela perceber os olhos marejados de sua colega, que pareciam pedir socorro sem dizer uma palavra.

Deste dia em diante, Eve nunca mais disse algo nas linhas de ‘hoje está tranquilo’.

❂❂❂

O som rítmico dos passos ecoou pelo corredor, enquanto Silver e Moon caminhavam em absoluto silêncio pelo hospital.

‘Eu provavelmente deveria compensar a recepcionista’

Ele estava irritado? Sim, mas não significa ser ignorante às suas ações. O jovem ameaçou Eve porque era a forma mais rápida de conseguir o que desejava, mesmo entendendo completamente que a mulher estava apenas seguindo ordens.

De qualquer forma, agora Silver tinha coisas mais importantes para lidar.

Abrindo a porta diretamente assim que viu o número passado pela recepcionista estampado na porta.

— Mãe! — A cena que encontrou, porém, foi completamente diferente do esperado.

— Oh, oi Silv. Você chegou bem rápido. — Sentada na cama com alguns travesseiros apoiando suas costas, Argent, a mãe de Silver, parecia extremamente relaxada.

Seus cabelos pretos estavam um pouco desgrenhados, mas, fora isso, não havia nada fora do comum.

— Você está bem? — Vendo a tranquilidade da mulher, o jovem suspirou aliviado, embora ainda estivesse confuso.

— Por que eu não estaria? — Inclinando a cabeça, Argent perguntou.

— Talvez porque isso é um hospital? E você está internada nele? — Rolando os olhos pela ingenuidade de sua mãe, Silver retrucou.

— Pensei que seu pai tinha te explicado. — Levando um dedo ao queixo, a mulher olhou brevemente para o homem que estava sentado ao seu lado.

— Tch, quase matei a recepcionista por nada… — Silver murmurou, antes de perceber que disse em voz alta.

— Quase fez o que?! — O pescoço de Argent virou tão rápido que o jovem pensou ter ouvido um estalo.

Os olhos azuis da mulher se focaram completamente nele, enquanto seus lábios franziam junto às sobrancelhas.

O garoto conhecia muito bem essa expressão. Foi a mesma que ela fez quando ele se tornou um [Contratante].

— É culpa do pai! — Graças a essas palavras, o homem, que até agora estava assistindo com interesse, arregalou os olhos.

— Não me mete nisso! Você que não me deixou explicar! — Apontando para seu filho, ele levantou suas reclamações.

— Hah?! Quem em sã consciência diz ‘sua mãe está no hospital’ e espera que eu responda com um ‘ok’? — Essa era a coisa mais estúpida que ele havia escutado em muito tempo.

— Silver Crawford! — A postura do jovem se endireitou com o grito de sua mãe. — Não me importa de quem é a culpa, mas você vai agir como um garoto educado e pedir desculpas para Eve.

‘Ela sabe até o nome da recepcionista?’

Ele sabia que sua mãe era do tipo gentil, mas saber até mesmo o nome da recepcionista era demais.

‘A não ser que ela esteja vindo muito frequentemente…’

Enquanto essa suspeita se formou em sua mente, Silver sabia que Argent não iria aceitar um não como resposta.

— Sim senhora… — Então ele aceitou relutantemente.

‘O grande e mau dragão prateado se desculpando, eu imagino a cara que Seiji faria se soubesse disso…’

Pensou Moon ao lado, segurando sua risada. Para ela, essa viagem estava se tornando cada vez mais valorosa.

— Bom! — Assentindo em satisfação, a mulher desviou um pouco o olhar de seu filho, finalmente percebendo que havia outra pessoa no quarto.

— E quem é essa fofura do seu lado? — Levando uma mão até a frente de sua boca, Argent não conseguiu esconder o sorriso presente em sua face. — Seria ela minha nora?

Silver iria negar, mas percebendo que era uma boa oportunidade para mudar de assunto, ele se manteve quieto.

Enquanto isso, Moon sentiu suas bochechas esquentarem ao ser chamada desta forma, mas o sorriso em seu rosto provou o quanto ela gostou do título.

— Prazer Srª… Argent, eu me chamo Amaterasu Moon. — Ao começar a apresentação, a jovem percebeu que não sabia o nome da mulher, mas, por sorte, uma prancheta presente na base da cama resolveu este dilema.

— Pode deixar o ‘senhora’ de lado, me chame de mãe. — Ignorando o olhar estranho de seu filho, a mulher balançou a mão, antes de gesticular para que a jovem se aproximasse. — Vem aqui, deixa eu te olhar mais de perto.

A garota olhou brevemente para Silver, no que o mesmo deu de ombros suspirando. Ele parecia ter desistido de qualquer resistência.

‘Será que é estranho eu achar isso fofo?’

Moon pensou, antes de caminhar na direção de Argent. O quarto onde o quarteto estava não era pequeno e, como a cama ficava a alguns passos de distância, a jovem pôde observar o local com mais cuidado.

As paredes eram verde-claras, com um quadro apresentando uma pintura do mar em preto e branco posicionado no campo de visão do paciente. Por algum motivo, não haviam equipamentos médicos na sala, apenas uma cabeceira ao lado da cama, na qual havia uma foto posicionada.

Do lado direito de Argent havia a poltrona onde o pai de Silver estava sentado, portanto, Moon caminhou até o lado direito dela.

Assim que a jovem se aproximou, as mãos da mulher repousaram em suas bochechas, passando um sentimento caloroso e gentil. Os orbes azuis profundos observaram os seus ametistas como se buscassem descobrir algo que nem a própria Moon sabia.

— Aprovada. — Argent disse de repente e, sem dar nenhuma explicação, ela recuou antes de se voltar para os homens da sala. — Vão tomar alguma coisa. Eu e minha nora precisamos conversar.

A dupla se entreolhou, e o jovem foi o primeiro a deixar a sala. Logo em seguida, o homem deu um beijo rápido em sua esposa antes de se retirar.

Um suave click soou quando a porta se fechou, deixando apenas as duas mulheres na sala.

A mão de Argent alcançou a foto da cabeceira, deslizando os dedos por ela como se pudesse tocar nas pessoas presentes nela. Um sorriso nostálgico tomou o rosto dela, antes da mulher estender o objeto para Moon.

— Silv é um garoto especial… — Nostalgia, calor e um toque de melancolia. Foi o que a garota pôde identificar no tom da voz de Argent.

Olhando para a fotografia em suas mãos, Moon conseguiu identificar todos presentes nela. No centro, um garoto de cabelos pretos e olhos azuis profundos tinha uma expressão irritada, embora fosse possível ver que seus lábios se curvaram levemente.

Ao lado dele, uma mulher com uma aparência semelhante à dele esboçou um sorriso largo, apoiando a mão esquerda no ombro do garoto enquanto a direita segurava a cintura da última pessoa presente.

O homem tinha uma expressão idêntica a do menino, mostrando que o pensamento de ambos sobre essa situação era igual.

Seus olhos eram pretos profundos, com um corte no estilo militar e, assim como Argent, ele tinha uma mão apoiada no ombro de Silver enquanto a outra repousava na cintura de sua esposa.

Parecia uma família feliz na foto, mas o que chamou a atenção de Moon foi outra coisa.

‘O Silver pequeno é muito fofo!’

Enquanto um sorriso estupido se formava no rosto da garota, Argent olhou para ela.

— Se você quiser eu posso te dar uma cópia. — A mulher comentou, com seus lábios se curvando gentilmente. — Aliás, tenho um álbum guardado só com fotos dele…

‘Onde eu assino?’

Embora estivesse pulando de alegria em sua mente, Moon permaneceu composta. — Ahem, adoraria ver isso mais tarde. Mas, você estava dizendo que Silver é um garoto especial.

— Ah, sim! Imagine minha surpresa quando ele apareceu um dia, quebrando a porta de casa e com outra cor de cabelo. — Um tinge de frustração escapou pelo tom de Argent. — E foi pior ainda não poder ajudá-lo nesta área.

Mesmo tendo sido educada pelo seu clã sobre os [Contratantes], a mulher era apenas uma ‘pessoa comum’, portanto, não era capaz de guiá-lo. Por este motivo, ela buscou a ajuda de Yuki, consequentemente fazendo seu filho se afastar para treinar.

— Eu devo ser uma mãe horrível, né? — Os olhos da mulher caíram. Talvez se ela tivesse prestado mais atenção nas aulas, ou então se tornado uma [Contratante], seu filho não teria que ir para tão longe.

Era uma linha de pensamento idiota, mas Argent acreditou genuinamente nisso.

— Claro que não. — Moon devolveu o mesmo olhar que havia recebido antes, olhando diretamente naqueles orbes azuis para transmitir suas intenções.

Comparado aos ‘pais’ dela neste mundo, a mulher à sua frente era claramente um parente muito melhor. Apenas o fato dela se culpar por algo que não poderia impedir cimentou este fato.

‘Enquanto isso, os meus me mandaram para as [Ruínas] sem hesitação’

E, diferente de Argent, eles não se sentiram nem levemente culpados por isso.

Talvez a mulher tenha sentido a seriedade no rosto de Moon, mas, se percebeu, ela não comentou sobre.

— Enfim, por mais que eu queira te contar sobre a infância de Silv, vamos ao que importa. — Entrelaçando as mãos e apoiando o queixo sobre elas, Argent olhou diretamente para a garota. — Quais são suas intenções com meu filho?

Embora nervosa, a jovem não desviou o olhar e, sem pensar muito, seus lábios se partiram para responder.

Leia em https://novels-br.com//novels/a-ascensao-do-dragao-prateado/volume-3-capitulo-128--lacos-familiares